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Livro "Tawé, Nação Munduruku, Uma Aventura na Amazônia" – parte II

Paulo Giardullo

Meu objetivo na coluna anterior e nesta, é falar das minhas impressões sobre o livro Tawé, Nação Munduruku, Uma Aventura na Amazônia, escrito por Walter Andrade Parreira, psicólogo e professor universitário em Belo Horizonte, na FUMEC. Mas na primeira coluna, escrevi mais sobre os caminhos que me levaram ao livro ou que me fizeram mais receptivo a ele, do que propriamente sobre a obra de Walter. Entre estes antecedentes, estão as citações do Professor Leone, de Pará de Minas, nas aulas que tive com ele na faculdade de História, valorizando algumas características da cultura indígena. E por coincidência, Walter A. Parreira foi professor e amigo de Leone na sua época de Faculdade, o que proporcionou o que eu chamei de “circularidade” em torno do livro “Tawé”.

Hoje quero falar mais sobre o livro “Tawé”, que narra uma aventura de Walter e sua esposa Kika (Francisca), nos anos 70, quando foram para a região norte do Brasil, de férias, meio sem rumo, abertos a descobrir novos caminhos e acabaram encontrando uma tribo indígena, os Munduruku ou Mõnjoroko, próxima ao Rio Cururu, cujas terras ficam entre os estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso. A primeira parte da narrativa fala sobre a viagem em si, marcada pela liberdade e aventura, bem ao estilo dos ideais dos anos 60 e 70. O casal saiu, inicialmente “sem destino certo” de Belo Horizonte para o norte, primeiramente em um trem Belo Horizonte – Brasília, em que viajaram na segunda classe, para poupar dinheiro, visando esticar mais a viagem. Mas para ele e Kika, o desconforto do trem combinava com o espírito da viagem.

Depois fizeram uma longa viagem de ônibus para Belém e depois no barco Estrela Azul, uma “gaiola”, com destino a Manaus, em que conheceram a ex-freira Ivete, que lhes falou sobre a nação dos Munduruku, com quem ela conviveu como missionária e ainda lhes deu dicas de como chegar até eles. Na verdade ela foi “uma abridora de caminhos” para Walter e Kika. Depois eles viajaram em um velho avião, que participou da 2ª Guerra Mundial para uma Missão Católica, junto a uma aldeia dos Munduruku. A partir daí, iniciaram a parte mais difícil e incrível da viagem, a subida de dois dias do Rio Cururu, de canoa, sob forte chuva, com Tawé, o chefe dos Munduruku, até chegarem a sua aldeia, no meio da floresta.

A segunda parte da narrativa de Walter se refere a sua descrição do estilo de vida e dos valores dos Munduruku, durante o período em que esteve com eles, ao lado de Kika. Walter fala com base em suas experiências, de um ângulo privilegiado, “in loco”, sobre a beleza do modo de vida Munduruku, principalmente a forma com que vivem “o presente”, na busca diária pela sobrevivência, que é bastante árdua e incerta, pelos riscos da natureza e as dificuldades quanto à garantia do sustento, em uma cultura que não contempla grandes armazenagens de alimentos. Na época da visita de Walter, eles passavam por uma fase de escassez da pesca e caça, devido a estação do ano, o que acabou antecipando o fim de sua permanência. É uma vida dura, mas os problemas deles são outros que os nossos “civilizados”, que enfrentamos poluição, trânsito caótico, estresse, miséria, violência. Eles têm uma divisão mais justa e equilibrada do trabalho e dos recursos da tribo. Há uma forma, digamos, mais comunitária, mais coletiva na vivência das pessoas. E sua relação com a natureza é mais harmônica, mais respeitosa, enquanto o homem branco quer dominá-la, destruindo-a.

Walter fala ainda, em várias partes do livro, sobre as dificuldades que os Munduruku e os povos indígenas, em geral, viviam na época e mais do que nunca, vivem hoje, com o risco do avanço ambicioso e implacável da “civilização” sobre suas terras. Na próxima coluna, falo um pouco mais sobre o livro e faço uma “conclusão” sobre o contraste da vida indígena com a nossa “civilizada”.

(Diário de Pará de Minas - Pará de Minas, MG - 16/07/08)

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